17.11.10

As representações trazidas pela cidade: o sagrado e o profano


Quando tirei essa foto, dia 30 de outubro de 2010, pensei primeiramente e somente que, no mesmo lugar, mais exatamente na mesma rua, dois períodos se encontravam, o medieval e o contemporâneo. Fiz a foto durante o casamento de uma amiga, e a fiz em P&B (preto e branco) justamente pela beleza do estilo. Então ao entrar na igreja comecei a reparar em sua arquitetura, reparando que tudo que fora construído de um lado era exatamente reproduzido do outro lado. O chão, constituído de desenhos da Estrela de Davi, era feito de tal modo que essas começassem e acabassem sem serem cortadas, diferente de como costuma acontecer com alguns pisos nas casas de hoje em dia.

Então me lembrei de uma frase escrita no livro “O Nome da Rosa” de Umberto Eco, essa frase, proferida por um dos personagens do romance dizia que, a arquitetura era a única das artes que se fazia a partir do universo, ou seja, casas, templos, castelos, etc. eram construídos segundo a disposição dos astros. Como o templo deve ser uma representação, ou melhor, deve imergir o fiel em um ambiente sagrado, sua construção se comporta desta mesma forma, criando um ambiente simétrico e perfeito, não por questões técnicas, mas sim por questões sagradas. Aqui a arquitetura vai, antes de tudo, buscar imitar a obra dos deuses e, no caso católico, de Deus.[1]
Daí então, partirei para a análise do prédio ao lado da igreja, enquanto essa primeira foi feita segundo uma ordem espiritual, que muitos podem discordar. O prédio é uma construção laica, nele não se tem religião, não se tem representação espiritual e nem sacralidade. Nele busca-se uma simetria, no entanto essa não se remete a criação dos deuses ou do Deus, mas sim uma pura questão técnica. O que podemos notar nele não está muito além de que é uma construção civil ou comercial e que abriga inúmeras pessoas, embora se discuta muito os erros da Igreja Católica, e eu inclusive concordo com essa discussão, a construção laica ela é não mais do que uma construção que reflete uma nova sociedade – nova perante a sociedade da igreja- nela conseguimos ver um terreno bem aproveitado por um proprietário, onde fora construído, em vez de uma só moradia, várias que remete diretamente ao crescimento urbano acelerado e a supervalorização e aproveitamento do lote para fins comerciais.

Em fim, quando tirei a fotografia, não pensei que ela pudesse guardar tanta representação e uma reflexão que vai além da arquitetura. Afinal além de notarmos aqui o encontro de duas eras, encontramos em forma de arte a composição dessa nova sociedade, que possui forte a presença do consumo e uma dessacralização cada vez mais latente.

[1] ELIADE, Mircea. O Sagrado e o Profano: a essência das religiões. São Paulo: Martins Fontes 2008

Claudio Eduardo da Silva

Nenhum comentário:

Postar um comentário