29.7.11

Indignações

Um dia desses depois de passar mais de 30 minutos esperando por um ônibus que deveria passar de 15 em 15 minutos virei-me num movimento de indignação e vi um senhor uniformizado consertando uma placa que dizia "CMTO- Tratando o usuario com dignidade". Sem pensar e com uma desinibição que nem eu mesma conhecia olhei nos olhos dele e murmurei "quanta dignidade heim!?", foi aí então, em um dos momentos mais surreais da minha vida me respondeu "dignidade?! eu nem sei o q e isso, moça!". E eu fiquei ali no vazio, perplexa, tentando entender e me questionando se ele estava  sendo irônico ou não e qual das opções era mais desconcertante. E entre outras coisas o que me deixa mais apavorada é perceber que as pessoas perderam a capacidade de se indignar, como se essa situação fosse uma condição, que o que elas tem fosse uma dadiva, não percebem que tudo pode e deveria ser diferente, que o poder esta nas mãos dela, que hã uma escolha, há uma solução. E assim nos vamos, gratos pelo que e possível e condicionados a pensar q somos livres!  Cinco minutos depois o ônibus passou e eu subi com as mãos no bolso pensando que talvez eu nem fosse me atrasar tanto! Indignação numero dois.


Gisele Manoel

2 comentários:

  1. Gostei da postagem. Pensei na reflexão de José Saramago em - Ensaios sobre a cegueira - que inclusive saiu em filme de mesmo nome e dirigido por Fernando Meireles. Às vezes penso que vivemos no mundo da cegueira, e concordando com Platão no - Mito da Caverna - aqueles que estão fora deste mundo não conseguem libertar os cegos da escuridão, e são taxados como loucos e ilusionistas.

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