23.9.11

O Cinema olha para o próprio umbigo.


Antes de começar queria dizer que os filmes postados anteriormente tem sua parcela na história do cinema simplesmente pelas suas contribuições técnicas ou quanto a sua forma de montagem. As críticas aqui feitas englobam qualquer tipo de filme valerão para os filmes anteriores se assim couberem.
Tudo começa quando no mundo explodem diversas crises, os povos árabes lutam contra ditaduras que dominam há anos, as pessoas do bairro de Totteham se levantam contra as desigualdades, uma crise se alastra pelo mundo e temos diversos protestos na Grécia e na Espanha e, por fim, no Chile estudante lutam por um sistema mais justo, mas o que o cinema tem a ver com isso?
Tudo, o cinema é uma forma de arte que consegue mais do que qualquer outra expressar a realidade, mas o que vemos não é isso, muitos filmes, e inclusive de diretores consagrados como Lars VonTrier, estão sendo feitos, porém os olhos estão voltados para o outro lado: o da vida individual. As histórias acontecem em lugares fechados casas, embora o filme “Melancolia” do diretor dinamarquês citado seja uma metáfora, ele trata de um assunto que, ao meu ver, agora pouco importa, o neoliberalismo está em momento de crise- não significando que está fraco-, o que faz com que as ideias de esquerda possam surgir de novo, mas enquanto Godard, em todo seu esforço, faz um filme sobre o socialismo, muitos diretores novatos estão preocupados com filmes sobre brigas de casais e sobre ricos em depressão- deixando bem claro que isso se estende ás outras áreas da arte.
Logicamente que esses filmes não são 100% da produção mundial, mas em uma mostra que ocorre em sp, a mostra INDIE 2011, grande parte dos filmes não fala nada sobre a crise, sobre os problemas das classes sociais, apenas diretores que estão nos países mais atingidos se preocupam com isso. E a opinião dos outros habitantes de outros países? Como eles veem isso? Qual suas opiniões? Talvez nunca saberemos. E o que temos é hoje é uma maioria de cineastas que registram os seus anseios próprios, como brigas de casais, aventuras com drogas, lembranças da adolescência, etc. e o que temos é um cinema cada vez mais voltado para o individuo enquanto os anseios coletivos são deixados de lado.

16.9.11

Três Reais



Moedas de centavos de real são contadas por uma mão com as unhas sujas, ao fundo uma criança pergunta : 

-Mãe, vamos passear hoje?

Um salário mínimo por mês R$ 550,00 ; trezentos são do aluguel, cem é do mercado, outros cem são das despesas com água e luz (quando possível de telefone),  e o que se faz com 50 reais quando se tem três filhos e passagem de ônibus custa três reais?

A mãe responde:
-Não filho, se eu conseguir juntar dinheiro mês que vem a gente vai.



14.9.11

Greve!









Minha mãe me acorda hoje cedo e pergunta:
Claudio você vai levar marmita hoje?

E eu respondo:
Não mãe, to de greve!

8.9.11

Bastardos Inglórios- Quentin Tarantino- 2009





Ao final do filme temos a seguinte fala do personagem principal Tenente Aldo Raine: “Essa foi minha grande obra de arte.”, parecemos ouvir, na verdade, um recado do diretor. Sem dúvida alguma esse é o melhor filme de Tarantino, dessa vez a trilha sonora não faz tanto impacto como em outras obras suas, mas como nas anteriores os personagens possuem personalidade forte e características bem marcantes, dentre eles se destaca o Coronel Hans Landa, que é interpretado por Cristoph Waltz, que no filme é um oficial da SS que devido a sua sagacidade é conhecido como caçador de judeus, seu jeito irônico, arrogante e falso nos faz ter raiva do personagem e comemorar o seu destino ao final do filme. A película faz menções diretas e contundentes das relações fortes que os nazistas possuíam com a sétima arte, afinal uma das maiores cineastas do mundo, Leni Riefenstahl, se consagrou graças à sua capacidade de, através do cinema, montar uma imagem benéfica do nazismo.
Vale a pena citar também que a primeira parte da película que pode até ser considerada um curta metragem dentro de outro filme, pois conta uma história com começo, meio e fim cheia de intensidade e com grande importância, não só para o entendimento do filme como para o contexto histórico do filme, a França ocupada pela Alemanha nazista. Finalmente, o filme é um espetáculo de imagens e boas interpretações, uma história boa que faz você ficar por quase duas horas esperando o final e quando acaba quer de novo, além do mais o DVD original possui extras muito interessantes, inclusive um curta metragem que é citado diversas vezes durante a história. E mais uma vez o nazismo se encontra de forma fantástica e cruel através das grandes telas do cinema.

2.9.11

Meia Noite Levarei a sua Alma- José Mojica Marins – 1963-1964*.


Esse longametragem se trata nada mais nada menos do que o primeiro filme do lendário personagem Zé do Caixão. Lançado no ano do golpe militar no Brasil, o filme retrata a história de um coveiro, Josefel Zanatas- mais conhecido como Zé do Caixão- em busca da mulher que possa gerar o filho perfeito. Em meio a sua busca Zé se depara com a crença das pessoas de sua pequena cidade e devido ao seu grande conhecimento e ateísmo despreza os demais se julgando o homem superior, o filme é repleto de cenas aterrorizantes e feitos especiais que mexem com a cabeça do espectador devido a sua precariedade ao mesmo tempo em que é genial, José Mojica Marins consegue transformar pequenos elementos do nosso cotidiano em coisas aterrorizantes, a obra conta com excesso de violência, sensualidade e principalmente grande critica às superstições e crenças religiosas, inclusive é nesse filme que temos a célebre e emblemática cena onde Zé do Caixão come carne de cordeiro em frente à procissão de sexta-feira santa.
            O filme foi lançado em 1964 e, como muitos outros filmes do diretor, foi censurado. Além disso, a película é a primeira parte de uma trilogia que se completa com: “Esta Noite Encarnarei em teu Cadáver” lançado três anos após o primeiro filme da trilogia e só se completa 44 anos depois com a “superprodução”, “A Encarnação do Demônio” filme este que foi produzido com o apoio da 20th Fox e o filme mais caro da carreira do diretor. Ainda falando da história do coveiro mais temido do Brasil, teremos uma série de filmes do diretor em que ele aparece e algumas histórias em quadrinhos, dentre elas, a mais recente, chamada “Prontuário 666” conta a história do personagem durante o período em que esteve na prisão, ou seja, a parte da história que ocorreu entre o segundo e o terceiro filme da trilogia. O diretor possui uma vasta filmografia que vai desde o filme de terror, que o consagrou, e até com pornochanchadas e filmes dramáticos, hoje já não o vemos mais com os olhos de antigamente o reconhecimento da obra de Mojica no exterior o transformou de diretor louco a diretor cult, o que não faz com que ele perca a sua genialidade. O filme em questão pode ser encontrado à venda em diversas lojas de filmes por São Paulo, chegando, em alguns casos, a custar apenas R$ 5,00 original e também pode ser encontrado junto com mais cinco obras do diretor em um Box por um preço de, aproximadamente, R$ 70,00, os DVDs ainda contam com uma enorme quantidade de extras que vão desde entrevistas até documentários e arquivos de áudio.

*Essa informação consta no livro Maldito- A vida e a obra de José Mojica Marins, o Zé do Caixão. André Barcinski e Ivan Frinotti. Editora 34, 1998.