7.3.11


O averso ou a manipulação da História?

Esta imagem encontra-se no livro de Dee Brown - Enterrem meu coração na curva do rio. São Paulo - Círculo do Livro, 1974, p.144. Considero um clássico sobre a conquista do Oeste dos EUA, sobretudo as incursões militares feitas a partir da segunda metade do século XIX. Não obstante, quero expressar a inquietação que me ocorreu após a leitura do livro, que conta a história de luta e resistência dos Navajos, Sioux, Dakota, Apaches, Cheyennes e outros grupos indígenas da antiga América do Norte contra aquilo que convencionou-se chamar de "Marcha para o Oeste". O que mais me incomodou não foi o conteúdo da obra, que por sua vez aborda com excelência um tema pouco discutido nos livros didáticos. O que eu não consigo conceber é como, de um modo geral, a maioria dos brasileiros apreende os EUA e suas intituições como um modelo de sociedade e de justiça social. É como se lá as coisas funcionassem quase que perfeitamente, enquanto aqui reina o descaso, a injustiça e a corrupção, aliados à ignorância do povo. Eu não tenho dúvidas em afirmar que essa é uma VISÃO SIMPLIFICADA do processo de formação dos EUA, e creio que também da realidade social do país. Com efeito, o citado país se ergueu tendo como pano de fundo a ideologia protestante, no entanto, apenas isso não é o suficiente para explicar todo o processo, que foi marcado pelo extermínio desleal das populações indígenas e em contrapartida criou-se grandes museus e instituições de pesquisa, que invadiu e se apropriou de vastas áreas do território mexicano e em 1994 convidou o México para integrar o bloco de países aliados (NAFTA), que contou com investimentos em industrias oriundos da acumulação de capital realizada pela burguesia escravista, que tanto lucrou com o tráfico quanto com a exploração da mão-de-obra africana, e até pouco tempo mantinha em seu código civil leis segregacionistas para os afrodescendentes. Pois é "senhores brasileiros", o que os livros didáticos insistem em destacar é que os EUA foi o primeiro país do Novo Mundo a alcançar a emancipação política, que a Declaração de Independência, A Constituição e a Declaração dos Direitos do Homem e do cidadão inspiraram os movimentos de libertação na América Latina, servindo como exemplo. Vale salientar que esse discurso não é so reproduzido pelas camadas menos favorecidas da sociedade, é comum encontrarmos juristas, advogados, policiais, professores, dentre outros, se reportando aos EUA de forma eloquente e pretigiosa, do tipo "... lá a justiça é levada a sério, tem pena de morte, prisão perpétua, de menor vai em cano, etc..." Considero essas falas vazias, destituídas de fundamentação e carregadas de influências ideológicas, principalmente as transmitidas pelos grandes aparelhos de comunicação vigentes no Brasil. Embora os meus conhecimentos a respeito deste país sejam prematuros, não consigo aceitar que o mesmo seja tido como modelo de democracia, e que tal deva ser exportado para o mundo, não consigo admitir que lá não exista problemas com políticas públicas, exclusão social e injustiças. Não é difícil encontrarmos notícias de reus condenados à morte inocentemente no dito país. Acho que precisamos sim, olhar para o nosso país com mais dignidade, desconstruir os mitos e valorizar a nossa produção cultural, bem como limitar, de alguma forma, a avalanche Hollyoodiana que muito contribui com a formação do imaginário social dos brasileiros.

Coleção fotográfica de Louis Agassis, Série Raças Puras, Álbum África. Triptico somatológico, identificado como Congo. in:MACHADO, Maria Helena P.T. e HUBER, Sacha (Orgs.) Rastros e Raças de Louis Agassis: fotografia, corpo e ciência, ontem e hoje. Expressão e Arte Editora - São Paulo, 2010.

Essas são algumas das imagens que compõe o acervo fotográfico desse naturalista norte-americano, que esteve no Brasil, mais precisamente no Rio de Janeiro e Manaus na segunda metade do século XIX, fotografando diferentes tipos humanos. O objetivo precípuo de Agassis era compor uma documentação visual de todos os tipos raciais existentes no mundo, com especial atenção aos negros e seus descendentes mestiços. Tal objetivo enraizava-se no profundo compromisso que Louis Agassis havia assumido em defesa do criacionismo e do poligenismo e na condenação do hibridismo no contexto norte-americano antes e durante a Guerra Civil (1861-1865). Tendo se tornado um dos principais ideólogos da segregação que se articulou nos EUA do pós-Guerra Civil, Agassis demonstrou que seus compromissos com as teorias raciais que propugnavam a separação entre as raças e a tutela ou deportação das populações afrodescendentes norte-americanas não eram apenas opiniões de última hora. Pelo contrário, haviam se desenvolvido lentamente ao longo de toda a sua carreira científica.
Um bom livro para quem se interessa pela temática, com textos de autores consagrados no estudo do assunto, como a historiadora e uma das organizadoras do livro, John Monteiro e Flávio dos Santos Gomes. Fica valendo, então, como uma indicação de leitura.... valeu..