20.1.11

Suícidio

José da Silva está triste, cabisbaixo. Chuta a parede, quebra uns copos e xinga. Como podem acabar com a vida dele? Desde criança sempre um jovem tão recatado. Fez sua vida em torno daquele lugar; seus amigos Jean, Luis, Sergei (os melhores) e tantos outros - construiu o seu mundo. Conheceu o mundo: França, Espanha, Mexico, Rússia... Os lugares mais variados, as coisas mais estranhas, as situações mais inusitadas. Cafés da manhã deliciosos aos domingos, madrugadas de sábado em claro na companhia de amigos ainda mais ilustres. E as mulheres que conheceu, Catharine, Nicole, Ingrid, entre outras, habitavam seus sonhos. As situações que viveu jamais saíram de sua mente. Aprendeu muito sobre arte, política, música e até sobre bruxas, faunos e reinos encantados. Enquanto sobe as escadas de um prédio alto na consolação, pensa em tudo isso. Senta no beiral, olha para baixo e pensa: "se sua vida acabou, a minha não tem mais sentido". E, com as lágrimas de Monsieur LaPadite nos olhos, salta.


Claudio Eduardo da Silva 

9.1.11

Um diálogo

Ambientação pré-definida: Um homem e uma mulher conversam sentados em uma mesa no canto de um lugar fechado escuro que se assemelha a uma balada devido a luz baixa e música ao fundo, luzes coloridas são vistas iluminando seus rostos. Eles tomam uma bebida quente (café) em xícaras. Ao fundo ouve-se Stockhausen e Jhon Cage.

MULHER: “A lua pode ser oca, se Júpiter é formado só de gases e é um corpo celeste...” (olhando para a mesa).

HOMEM: (olhando para MULHER com cara de pouco se importar abre um maço de cigarros, acende um cigarro e olha atentamente para a mulher) “Por que café e cigarro combinam tanto?”

MULHER: (a ação continua, a mulher dá uma olhada em sua volta) “Por que seria diferente disso? Já não é igual? Além do mais, dois e dois só são quatro porque a matemática é uma ciência exata...”

HOMEM: “Você me confundi, nós deveríamos ter aceito aquela proposta, ela tinha pés lindos!” (Ele toma um gole de café e olha algo ao longe).

MULHER: “Os telhados das casas têm formato das mãos que rezam, e as torres góticas são feitas de modo que parecem furar o céu, nada mais lógico, pois a arquitetura representa o cosmos e o cosmos é o princípio da idéia de Deus. Cadê minha cadeira?"

HOMEM: “Foi a nossa melhor chance de fazer um ménage” (ele apaga o cigarro na mesa intencionalmente).

MULHER: “A arquitetura se criava de acordo com o cosmos a música também assim era” (o espaço se silencia ela olha para ele) “Vamos dançar ao som de Jhon Cage?”

HOMEM: (olha nos olhos da mulher) “Seus olhos me sorriam, mas ultimamente só os dela me alegram” (ele toma o último gole de café virando toda a xícara).



FIM

Claudio Eduardo da Silva e Gisele dos Reis Manoel